Querido Boteco, olha nós aqui outra vez. Faz um tanto e aconteceu de um tudo, né? Mas eu imaginava que essa hora podia chegar e é agora: volto a escrever no nosso amado cantinho, sempre que der. Quem já conhece o esquema da casa sabe: não tem regra, nem periodicidade; o compromisso é se comunicar quando rolar. Dar vazão a pensamentos, insights, crônicas do dia a dia, assuntos que pintarem. O tal papo de boteco mesmo. E para quem está chegando agora, minhas boas-vindas: puxe uma cadeira e fique à vontade.
Pra estrear nosso Boteco de agora, ou Boteco no meio do Apocalipse, (ou sei lá como chamar essa nova versão); eu fiquei a fim de falar sobre o clipe novo. Lançamos no começo do mês música e vídeo inéditos de “Tempo de Brincar”. A escolha dessa época não foi aleatória: a ideia era homenagear o mês do rock, trocar ideia sobre esse assunto, ressignificar e substanciar a data. Isso rolou de um jeito massa através das redes, essa conversa. Falamos sobre a história do Dia Do Rock e do começo de tudo. Adendo rápido e essencial pra encurtar esse caminho: quem curte rock precisa saber sobre Sister Rosetta Tharpe.
E aqui, no Botequim, eu queria contar sobre o processo criativo e desvendar um pouco letra e vídeo de Tempo de Brincar.
Não sei ao certo a data, mas lá nos idos de algum tempo atrás eu e Martin começamos a fazer várias sessions de gravação na minha casa. Produzimos bastante coisa. Eu tinha acabado de instalar um programa de gravação no meu computador e estava na pilha de aprender, ter mais autonomia na hora de registrar minhas demos e ideias. E também curtíamos esse processo de jam session, de tocar livremente, por diversão mesmo. Fizemos muitas experiências nessa época e ao longo de alguns anos. Algumas dessas viraram música, de fato. Acho que tem algo no SETEVIDAS, provavelmente alguma outra virou single, umas não viraram nada e ainda há outras maturando, guardadas. Com o tempo entendi que canção é um troço ardiloso: algumas delas precisam de tempo para serem degustadas, outras necessitam ser imediatamente. E a vida foi indo.
Ano passado, pandemia, caos, desgoverno; sem shows, isolamento social; sem ideia do que estaria pela frente. Me embrenhei criativamente em março do ano passado num processo que, para minha própria surpresa e alegria, rendeu um monte de lançamentos. Acabou sendo um período bastante produtivo pra mim - e uma espécie de salvação. VideoTrackz, releitura de Anacrônico com Josyara, depois streamando na Twitch, produzindo audiovisual e conteúdo inédito, clipe da também inédita Na Tela, filme do Matriz e DVD ao vivo em Salvador lançados, ufa. Esqueci algo?
E sempre procurando me inspirar e ter ideias. Conversando com Rafa, percebemos o tanto de material que criamos esses anos todos e que nunca haviam sido lançados. Coisas que talvez nunca viessem à luz do dia porque estávamos sempre produzindo mais e mais: o que ia ficando de extra das gravações foram formando um baú bem recheado. Eis que, numa dessas, Daniel resolveu organizar um HD da época das experimentações com Martin. E encontrou pronta e gravadinha; com letra, solo de guitarra e tudo, Tempo de Brincar.
Escutamos e fez muito sentido que ela aparecesse agora. Um rock cru, meio stoner, simples. “Rock duro”, como diria um brother meu. Eu tava bem a fim de fazer um som assim de novo. Com uma letra simples e cheia de subjetividades, aberta à interpretações. Nessa gravação eu toquei bateria, percussão e vocais; e Martin guitarras e baixo. Quando a descobrimos- (acho que estávamos finalizando Matriz?)- fomos pro Rio e fizemos uns overdubs; adicionei umas teclas, piano e mais percussão; e imagino que Martin tenha feito mais algumas guitas.
Pronto, deixa ela aí que uma hora a gente lança.
Essa hora foi agora há pouco. Desde o ano passado os assuntos e temáticas dos meus textos, tweets, conversas no Saia Justa e também canções têm sido o momento, revolução, amor, contemporaneidade, liberdade, pertencimento. No Matriz tem tudo isso e mais um pouco. Na Tela foi uma música escrita no começo da pandemia e falava sobre a impossibilidade do contato físico e as frustrações e /ou platonizações da vida virtual. Em Tempo de Brincar, pro mês do rock, o lúdico falou mais alto. Lembro que quando fazíamos essas jam sessions em casa, Martan chegava lá e o papo era “e aí, vamo brincar de quê hoje?”
O eu-lírico dessa música é uma figura que encontra no lado oculto, na noite, no avesso, o seu tempo de brincar. A hora de ser perigosamente livre, de se desprender das convenções e da casca da adultice, a hora de se permitir ser. Tem uma peraltice nessa brincadeira, o delicioso fator “cuidado, menina!”, uma saci ou erê que gosta de aprontar. O telefone é a vida adulta. Às vezes ele toca e interrompe a brincadeira, chamando pra responsa e para o que deve ser. O telefone é também a aurora; o dia que chega inegociável bradando que a noite acabou e é preciso ir pra casa. Quando a gente brinca livremente, ou quando estamos num momento muito bom, perdemos a hora. O tempo, a hora correta de fazer as coisas começa a fazer parte da vida; “tá na hora de estudar, tá na hora de deitar, tá na hora de acordar…”
A entrada da cronologia nas nossas vidas é um marco, uma espécie de ruptura com a inocência e a chegada da responsabilidade.
Hoje, enquanto adultos, que hora você se sente brincando de forma livre, solto, sem se preocupar com o olhar alheio?
O clipe é um parágrafo à parte: estava procurando um mote, um assunto. Sabíamos que precisávamos de uma ideia simples e eficiente: em plena pandemia, teríamos que filmar com equipe bastante reduzida por questão de segurança, todos testados, e assim o fizemos. Pouquíssimas pessoas no estúdio e esse resultado que eu absolutamente adoro. Quando começamos o brainstorm, eu e Fabrizio Martinelli, que dirigiu o vídeo, pensamos em muitos recortes. Logo ficou claro a influência dos anos 90 nas nossas bagagens e achamos que o clipe tinha tudo a ver com a estética grunge. Aquela coisa de ter um fio central e ao redor disso imagens e símbolos, como num sonho; uma coisa davidlynchiana mesmo.
Como eu e Martin gravamos os instrumentos, perguntei se existia um jeito de nós dois sermos quatro no quadro. Pensei em formação clássica de banda, e tinha que ter os instrumentos e a gente tocando. TINHA que ter batera, guitarra. Imaginei um por um entrando em cena e a “banda” ir se formando aos poucos. Eu levantaria da bateria e a imagem ficaria lá, congelada… será que rola? Como faz isso? E aí, Brizio?
“BORA”.
Segundo o próprio: “Esse efeito usado no clipe se chama Freeze Frame ou Stop and Go; e consiste em gravar a mesma cena, o mesmo quadro, com a câmera travada. E no nosso caso a gente precisou colocar os quatro em posições específicas para não sobrepor a imagem e assim poder recortar pra fazer o efeito. Então as cenas foram gravadas separadas: um take inteiro de Pitty na bateria, um inteiro de Martin no baixo, outro Pitty no vocal, outro Martin na guitarra. E a junção acontece na montagem.”
Essa é a veia central. Nesse brainstorm, afinando as ideias com ele e Martin, vieram as outras imagens e sensações. Tem que ser “kinky”. Uns objetos BDSM, com certeza. Eu queria algemas e até tentamos, mas não deu certo. Já a venda funcionou lindamente, rs.
Tem uma cena que eu amo, a que a gente chamou na hora de “gambito da rainha”: um plano frontal com uma luz de frente, um leve plongé, foco no carão. Alguns mastershots ali, olho no olho, papo reto. Outro lance que acho foda foi a ideia do Brizio de usar uma lente que se chama Lensbaby. Ela é um lance meio analógico, sei lá, tem que fazer literalmente na mão. Essa lente distorce e desfoca as laterais do quadro, e dá um aspecto onírico à cena. Fica lindo e tinha tudo a ver com o lance 90’s que queríamos.
E é isso, Tempo de Brincar tá no mundo e nosso Boteco de hoje tá na saideira. Dá uma chegada lá no meu Youtube pra assistir ;)
Qualquer hora eu volto. <3
Bjs, P.
Obrigada aos envolvidos pelo clipe foda!
Direção: Fabrizio Martinelli
Direção de Fotografia: Alan Fábio Gomes
Assistente de Câmera: Murilo Perches
Contra-Regra: Caio Medeiros
Produção Executiva: Silvia Helena Rosa
Sound Fxs: Leonardo Leone
Make Up & Hair: Pitty
Stylist: Juliana Maia
Querido Boteco, olha nós aqui outra vez. Faz um tanto e aconteceu de um tudo, né? Mas eu imaginava que essa hora podia chegar e é agora: volto a escrever no nosso amado cantinho, sempre que der. Quem já conhece o esquema da casa sabe: não tem regra, nem periodicidade; o compromisso é se comunicar quando rolar. Dar vazão a pensamentos, insights, crônicas do dia a dia, assuntos que pintarem. O tal papo de boteco mesmo. E para quem está chegando agora, minhas boas-vindas: puxe uma cadeira e fique à vontade.
Pra estrear nosso Boteco de agora, ou Boteco no meio do Apocalipse, (ou sei lá como chamar essa nova versão); eu fiquei a fim de falar sobre o clipe novo. Lançamos no começo do mês música e vídeo inéditos de “Tempo de Brincar”. A escolha dessa época não foi aleatória: a ideia era homenagear o mês do rock, trocar ideia sobre esse assunto, ressignificar e substanciar a data. Isso rolou de um jeito massa através das redes, essa conversa. Falamos sobre a história do Dia Do Rock e do começo de tudo. Adendo rápido e essencial pra encurtar esse caminho: quem curte rock precisa saber sobre Sister Rosetta Tharpe.
E aqui, no Botequim, eu queria contar sobre o processo criativo e desvendar um pouco letra e vídeo de Tempo de Brincar.
Não sei ao certo a data, mas lá nos idos de algum tempo atrás eu e Martin começamos a fazer várias sessions de gravação na minha casa. Produzimos bastante coisa. Eu tinha acabado de instalar um programa de gravação no meu computador e estava na pilha de aprender, ter mais autonomia na hora de registrar minhas demos e ideias. E também curtíamos esse processo de jam session, de tocar livremente, por diversão mesmo. Fizemos muitas experiências nessa época e ao longo de alguns anos. Algumas dessas viraram música, de fato. Acho que tem algo no SETEVIDAS, provavelmente alguma outra virou single, umas não viraram nada e ainda há outras maturando, guardadas. Com o tempo entendi que canção é um troço ardiloso: algumas delas precisam de tempo para serem degustadas, outras necessitam ser imediatamente. E a vida foi indo.
Ano passado, pandemia, caos, desgoverno; sem shows, isolamento social; sem ideia do que estaria pela frente. Me embrenhei criativamente em março do ano passado num processo que, para minha própria surpresa e alegria, rendeu um monte de lançamentos. Acabou sendo um período bastante produtivo pra mim - e uma espécie de salvação. VideoTrackz, releitura de Anacrônico com Josyara, depois streamando na Twitch, produzindo audiovisual e conteúdo inédito, clipe da também inédita Na Tela, filme do Matriz e DVD ao vivo em Salvador lançados, ufa. Esqueci algo?
E sempre procurando me inspirar e ter ideias. Conversando com Rafa, percebemos o tanto de material que criamos esses anos todos e que nunca haviam sido lançados. Coisas que talvez nunca viessem à luz do dia porque estávamos sempre produzindo mais e mais: o que ia ficando de extra das gravações foram formando um baú bem recheado. Eis que, numa dessas, Daniel resolveu organizar um HD da época das experimentações com Martin. E encontrou pronta e gravadinha; com letra, solo de guitarra e tudo, Tempo de Brincar.
Escutamos e fez muito sentido que ela aparecesse agora. Um rock cru, meio stoner, simples. “Rock duro”, como diria um brother meu. Eu tava bem a fim de fazer um som assim de novo. Com uma letra simples e cheia de subjetividades, aberta à interpretações. Nessa gravação eu toquei bateria, percussão e vocais; e Martin guitarras e baixo. Quando a descobrimos- (acho que estávamos finalizando Matriz?)- fomos pro Rio e fizemos uns overdubs; adicionei umas teclas, piano e mais percussão; e imagino que Martin tenha feito mais algumas guitas.
Pronto, deixa ela aí que uma hora a gente lança.
Essa hora foi agora há pouco. Desde o ano passado os assuntos e temáticas dos meus textos, tweets, conversas no Saia Justa e também canções têm sido o momento, revolução, amor, contemporaneidade, liberdade, pertencimento. No Matriz tem tudo isso e mais um pouco. Na Tela foi uma música escrita no começo da pandemia e falava sobre a impossibilidade do contato físico e as frustrações e /ou platonizações da vida virtual. Em Tempo de Brincar, pro mês do rock, o lúdico falou mais alto. Lembro que quando fazíamos essas jam sessions em casa, Martan chegava lá e o papo era “e aí, vamo brincar de quê hoje?”
O eu-lírico dessa música é uma figura que encontra no lado oculto, na noite, no avesso, o seu tempo de brincar. A hora de ser perigosamente livre, de se desprender das convenções e da casca da adultice, a hora de se permitir ser. Tem uma peraltice nessa brincadeira, o delicioso fator “cuidado, menina!”, uma saci ou erê que gosta de aprontar. O telefone é a vida adulta. Às vezes ele toca e interrompe a brincadeira, chamando pra responsa e para o que deve ser. O telefone é também a aurora; o dia que chega inegociável bradando que a noite acabou e é preciso ir pra casa. Quando a gente brinca livremente, ou quando estamos num momento muito bom, perdemos a hora. O tempo, a hora correta de fazer as coisas começa a fazer parte da vida; “tá na hora de estudar, tá na hora de deitar, tá na hora de acordar…”
A entrada da cronologia nas nossas vidas é um marco, uma espécie de ruptura com a inocência e a chegada da responsabilidade.
Hoje, enquanto adultos, que hora você se sente brincando de forma livre, solto, sem se preocupar com o olhar alheio?
O clipe é um parágrafo à parte: estava procurando um mote, um assunto. Sabíamos que precisávamos de uma ideia simples e eficiente: em plena pandemia, teríamos que filmar com equipe bastante reduzida por questão de segurança, todos testados, e assim o fizemos. Pouquíssimas pessoas no estúdio e esse resultado que eu absolutamente adoro. Quando começamos o brainstorm, eu e Fabrizio Martinelli, que dirigiu o vídeo, pensamos em muitos recortes. Logo ficou claro a influência dos anos 90 nas nossas bagagens e achamos que o clipe tinha tudo a ver com a estética grunge. Aquela coisa de ter um fio central e ao redor disso imagens e símbolos, como num sonho; uma coisa davidlynchiana mesmo.
Como eu e Martin gravamos os instrumentos, perguntei se existia um jeito de nós dois sermos quatro no quadro. Pensei em formação clássica de banda, e tinha que ter os instrumentos e a gente tocando. TINHA que ter batera, guitarra. Imaginei um por um entrando em cena e a “banda” ir se formando aos poucos. Eu levantaria da bateria e a imagem ficaria lá, congelada… será que rola? Como faz isso? E aí, Brizio?
“BORA”.
Segundo o próprio: “Esse efeito usado no clipe se chama Freeze Frame ou Stop and Go; e consiste em gravar a mesma cena, o mesmo quadro, com a câmera travada. E no nosso caso a gente precisou colocar os quatro em posições específicas para não sobrepor a imagem e assim poder recortar pra fazer o efeito. Então as cenas foram gravadas separadas: um take inteiro de Pitty na bateria, um inteiro de Martin no baixo, outro Pitty no vocal, outro Martin na guitarra. E a junção acontece na montagem.”
Essa é a veia central. Nesse brainstorm, afinando as ideias com ele e Martin, vieram as outras imagens e sensações. Tem que ser “kinky”. Uns objetos BDSM, com certeza. Eu queria algemas e até tentamos, mas não deu certo. Já a venda funcionou lindamente, rs.
Tem uma cena que eu amo, a que a gente chamou na hora de “gambito da rainha”: um plano frontal com uma luz de frente, um leve plongé, foco no carão. Alguns mastershots ali, olho no olho, papo reto. Outro lance que acho foda foi a ideia do Brizio de usar uma lente que se chama Lensbaby. Ela é um lance meio analógico, sei lá, tem que fazer literalmente na mão. Essa lente distorce e desfoca as laterais do quadro, e dá um aspecto onírico à cena. Fica lindo e tinha tudo a ver com o lance 90’s que queríamos.
E é isso, Tempo de Brincar tá no mundo e nosso Boteco de hoje tá na saideira. Dá uma chegada lá no
meu Youtube pra assistir ;)
Qualquer hora eu volto. <3
Bjs, P.
Obrigada aos envolvidos pelo clipe foda!
Direção: Fabrizio Martinelli
Direção de Fotografia: Alan Fábio Gomes
Assistente de Câmera: Murilo Perches
Contra-Regra: Caio Medeiros
Produção Executiva: Silvia Helena Rosa
Sound Fxs: Leonardo Leone
Make Up & Hair: Pitty
Stylist: Juliana Maia
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